correio24h -07/06/2025 13:16
Uma cena em Zagreb, na Croácia, surpreendeu autoridades do país pela magnitude do abandono: o corpo mumificado de Hedviga Golik, enfermeira nascida em 1924, foi descoberto no apartamento em que morava sozinha, no bairro de Medveščak. A morte, segundo estimativas, havia ocorrido 42 anos antes. O caso foi em maio de 2008.
A idosa vivia reclusa em um apartamento de apenas 18 metros
quadrados, localizado no sótão de um prédio de quatro andares na capital
croata. O estilo de vida solitário e os hábitos considerados excêntricos
levaram os vizinhos a manter distância. Hedviga evitava o contato social,
recorrendo a métodos inusitados, como o uso de um balde preso a uma corda para
enviar sua lista de compras a vizinhos mais solícitos, sem jamais sair de casa
para adquiri-las pessoalmente.
Após seu desaparecimento, especulou-se que teria ido morar
com parentes ou mesmo se unido a uma seita religiosa, hipótese alimentada por
rumores à época. A ausência prolongada não gerou, no entanto, maiores
investigações. A verdade só veio à tona décadas depois, quando representantes
do prédio decidiram iniciar reformas e notaram que o apartamento de Hedviga
permanecia inacessível e sem resposta a notificações.
Ao arrombarem a porta, encontraram a moradora deitada em sua
cama, coberta por cobertores, com uma xícara de chá ao lado e a televisão ainda
ligada. O ambiente permanecia praticamente intacto, dominado por teias de
aranha e com sinais de que ninguém havia entrado ali desde sua morte. A
autópsia não conseguiu apontar a causa exata da morte, mas indicou que o
falecimento teria ocorrido durante uma estação fria, o que contribuiu para o
processo de mumificação natural do corpo.
Na época, o caso teve ampla repercussão internacional. O The
Guardian chamou atenção para a omissão coletiva que permitiu que uma morte
passasse despercebida por mais de quatro décadas, criticando tanto vizinhos
quanto autoridades. O Daily Telegraph, por sua vez, levantou a questão dos
pagamentos contínuos de contas de eletricidade, revelando que o arquiteto
responsável pela construção do edifício, falecido em 2005, era quem vinha
quitando as despesas do imóvel.
Já o New York Times utilizou o episódio como símbolo extremo
do isolamento nas sociedades urbanas contemporâneas, refletindo sobre como o
individualismo crescente e a falta de laços comunitários podem levar a
situações tão drásticas quanto a de Hedviga Golik.